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06/03/2002
Uma nova guerra dos browsers?

Três anos depois de a America Online comprar a Netscape Communications, tudo indica que o AOL 8.0, que será lançado na segunda metade do ano, finalmente irá substituir o navegador Internet Explorer da Microsoft pelo projeto em código-fonte aberto Mozilla, da Netscape.

Mas com a guerra dos navegadores do final dos anos 90 eclipsada pelo processo judicial enfrentado pela Microsoft, a grande questão parece ser: pra quê?

Os analistas que acompanham ambas as empresas parecem não ver vantagem na mudança. "A AOL pode apenas gostar de gastar dinheiro para se livrar de seus laços com a Microsoft", disse Kenneth Smiley, diretor de pesquisa do grupo Giga Information. "Nesse caso, no entanto, a AOL não está conseguindo articular um motivo pelo qual esta manobra seria interessante a ela ou aos seus clientes".

Há cinco anos, a America Online escolheu o navegador da Microsoft em vez do então independente Netscape Navigator, em parte porque a Microsoft permitia que os fabricantes de computadores incluíssem o ícone da AOL na área de trabalho de computadores novos equipados com o Windows – uma das maiores fontes de novos assinantes para a America Online. Nos anos seguintes, no entanto, os investigadores federais usaram o acordo entre as empresas como evidência do poder monopolizador da Microsoft.

Nos últimos meses, as duas companhias não conseguiram entrar em um acordo em torno da inclusão do software da AOL, sua colocação na área de trabalho do Windows e a inclusão do ícone da concorrente MSN ao seu lado. A Netscape, agora uma divisão da America Online, moveu uma ação contra a Microsoft em janeiro, alegando práticas de monopólio. Com a área de trabalho do Windows sob o olhar atento das autoridades americanas devido ao acordo entre a Microsoft e o Departamento de Justiça, o contrato original parece cercado de polêmica.

Hoje, a AOL parece estar anunciando que o Mozilla está finalmente chegando ao seu lançamento oficial, depois de quatro anos em desenvolvimento.

Os representantes da AOL se recusam a comentar os planos para o lançamento do AOL 8.0. Entretanto, em abril, a companhia incorporou o sistema de renderização do Mozilla, que atende pelo codinome Gecko, em um novo lançamento para os 3 milhões de usuários de sua marca Compuserve. Versões de teste do software da AOL, tanto para Windows quanto para OS X já trazem código do Mozilla em vez do Internet Explorer.

O porta-voz da AOL, Jim Whitney, disse, a respeito do lançamento da Compuserve: "Ele recebeu uma resposta muito positiva dos membros. Ir adiante e testar o Gecko com a AOL é um passo natural, é é isso que estamos fazendo".

Com 34 milhões de assinantes ao redor do mundo e 20% do mercado norte-americano de provedores, a AOL eliminaria uma boa fatia dos 90% de mercado de navegadores controlados pela Microsoft se mudasse para o Mozilla. Mas é pouco provável que a manobra recriasse a guerra dos navegadores do final dos anos 90.

Naquela época, a Microsoft e a Netscape acrescentaram recursos únicos e incompatíveis aos seus programas. Os webdesigners e outros que trabalham com a WWW, irados com a necessidade de desenvolver duas ou mais versões de cada site, fundaram em 1998 o Web Standards Project, ou WaSP, a fim de pressionar as duas empresas a entrar em conformidade com o World Wide Web Consortium.

A batalha dos padrões foi vencida, e o fundador do WSP Jeffrey Zeldman diz que os esforços atuais são um tipo de operação de limpeza. "Existem diferenças sutis na forma como eles lidam com os padrões, mas eles são 99% compatíveis", disse Zeldman a respeito dos novos navegadores. "É muito diferente do que tínhamos em 1997".

Zeldman, um consultor Web de Nova York, pode descrever e detalhes as incompatibilidades dos programas mais recentes, mas disse que mudar do Internet Explorer para o Gecko seria uma operação praticamente indolor, tanto para os desenvolvedores de websites quanto para os clientes da AOL. "É deles, é bom, e vai oferecer uma boa experiência. Eles não precisam usar o navegador de outra empresa", disse.

A líder de projeto do Mozilla, Mitchell Baker, que pediu demissão da AOL em setembro do ano passado, disse que, apesar do maior atendimento aos padrões por parte da Microsoft, a ameaça à rede ainda é grande o bastante para que ela continue gerenciando o projeto como voluntária. "O argumento da conveniência é fácil de entender, mas ele exige muito esforço e meditação para que seus perigos sejam apresentados", disse Baker. "Vejo o navegador como a interface entre os seres humanos e a Web. O cenário para o qual estamos nos encaminhando hoje é um em que toda a funcionalidade da Web só pode ser vista e manipulada através de um mecanismo – o Internet Explorer".

Baker continua: "A determinação de como os dados são apresentados, como são manipulados e o que acontece com eles é determinada pelo plano de negócios de quem controla este mecanismo único. O objetivo do projeto Mozilla é ter um número suficientemente grande de navegadores que atendam aos padrões para que o conteúdo da Web continue sendo aberto".

Mesmo que a AOL impeça a Microsoft de tomar o controle da Internet, Steve Case não deve esperar muita comemoração em torno disso. "Sou a favor de as megacorporações usarem padrões abertos e código aberto", disse o fundador do projeto Mozilla, Jamie Zawinski, que pediu demissão depois que o projeto foi assumido pela AOL em 1999. "Mas eu deveria torcer pela AOL-Time Warner em sua briga contra a Microsoft? O que virá depois? Union Carbide versus Philip Morris?"

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